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Onã Silva - A Poetisa do Cuidar

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Textos

UNESCO. Juventude, Violência e Cidadania: Os Jovens de Brasília.   Coordenação: Júlio Jacobo Waiselfisz/ Unesco. São Paulo: Cortez Editora, 1998. 175p.
 
A proposição da pesquisa Juventude, Violência e Cidadania foi desencadeada pela constatação de que a violência não está associada apenas à miséria e à periferia. Ela também é praticada nos estratos sociais elevados, emergindo a cada dia em episódios trágicos, como a morte do índio pataxó Hã-há-hãe Galdino Jesus dos Santos, 45 anos, cometida por cinco jovens de classe média de Brasília, no dia 21 de abril de 1997 - um crime hediondo que tem mobilizado educadores, políticos, pesquisadores e sociedade para instituir medidas de   prevenção e combate à violência.

Para viabilizar esta investigação científica, coordenada tecnicamente pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), congregaram-se esforços da Organização Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial de Saúde(OPAS/OMS), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Programa das Nações Unidas para o Controle Internacional de Drogas(UNDCP), Fundo de População das Nações Unidas(FUNUAP), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Secretaria dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça, Secretaria de Educação  do Distrito Federal e do Correio Braziliense.

Este trabalho, considerado inédito, procurou compreender valores  e comportamentos dos jovens de classe média do Plano Piloto, indagando: Há entre estes jovens uma visão compartilhada de violência? Como estes jovens constróem e definem sua realidade? Como vêem o outro, o diferente, as relações sociais, étnicas, de respeito, de tolerância e solidariedade?

Para delimitação do universo da pesquisa foram selecionadas 18 escolas de Brasília. A amostra populacional foi constituída por 401 jovens(de 14 a 20 anos) e 400 adultos(pais, professores e diretores de escolas) sendo a coleta de dados realizada de junho a outubro de 1997. Previamente treinados, vinte estudantes de Ciências Sociais da Universidade de Brasília aplicaram a pesquisa de campo utilizando para coleta de dados primários o questionário e o método do Grupo Focal - este último permite ao entrevistador recolher atitudes, crenças e valores do grupo-alvo. Utilizou-se a técnica do Grupo Focal com 87 jovens,   representados em 11 grupos distintos: 5 de alunos da escola pública, 3 de alunos da escola particular, 1 de jovens dependentes de drogas, 1 de jovens infratores de trânsito e 1 grupo de jovens pertencentes a galeras. Recorreu-se também à técnica do Grupo Focal para ouvir 49 pais (divididos em 5 grupos) e 13 professores (divididos em dois grupos: escola pública e particular).

Os dados receberam tratamento estatístico, sendo agrupados pela freqüência absoluta e percentual, respectivamente, dispostos em tabelas e gráficos. Recortes de alguns discursos dos partícipes foram dispostos em quadros. A análise dos dados foi sistematizada em cinco capítulos: Brasília, Escola, Vida Familiar, Cidadania e o Caso Galdino.   

O Capítulo I apresenta as percepções da população estudada sobre Brasília: 83% dos jovens gostam de Brasília devido à qualidade de vida, calma , opções de lazer e diversão. Em contrapartida, aqueles que não gostam alegam que a cidade é “muito parada”, difícil de fazer amigos, habitada por pessoas frias e culpam a organização espacial de Brasília pela distância entre as pessoas. A maioria dos  participantes jovens (68,3%) nasceu em Brasília.

Na opinião da maioria dos pais, Brasília é um bom lugar para criar os filhos, cidade funcional e limpa; outros rotulam-na: “difícil de ter amigos”, “sociedade artificial” e “sociedade de aparências que pressiona-os a oferecer aos filhos bens que vão além de seu poder aquisitivo”.

Mais da metade(58,3%) dos mestres afirma que Brasília não oferece aos jovens possibilidades de sucesso porque é uma cidade sem indústrias. Eles consideram que a falta de lazer e diversões leva os jovens ao uso de bebidas e drogas em festas e atividades extra-escolares. Nos discursos dos docentes não há referência uso de drogas na escola. É consenso entre os educadores que a sociabilização nas cidades satélites é mais difícil que no Plano Piloto. Para eles, a rotina diária dos jovens é fazer “pega”, participar de gangues, brigar nos bares. Porém, os jovens declaram que nas cidades satélites as relações interpessoais são mais amigáveis, companheiras e solidárias e podem interagir com diversas classes sociais, enquanto que, no Plano Piloto as pessoas, incluindo os jovens, se isolam buscando auto afirmação: “eu sou”, “eu posso”, “eu tenho” . 
 
Ainda contrariando a opinião dos mestres, os jovens relatam que, durante o dia, as atividades extra-escolares preferidas são: conversar com os amigos, ouvir música, assistir  à TV. Atenta-se para o fato da maioria nunca trabalhar (77,3%). Divertem-se à noite com amigos da escola e da quadra - conversam, dançam, bebem, namoram, vão a festas e boates. As festas para alguns, são importantes para a formação de laços superficiais ou duradouros. Reclamam que eventos culturais, sobretudo vindos de outros Estados ou do exterior são  caros. 

Ao definir violência, jovens dos grupos focais citaram a física e a moral. Para eles a moral é mais grave: desrespeito ao outro e às concepções alheias. Jovens de grupo focal heterogêneo associaram violência à agressão física, desconsiderando a moral, enquanto  jovens de classes populares que moram na periferia e estudam em escolas do Plano Piloto opinaram que “ a violência vem de casa, a culpa é da família , é uma conseqüência do consumo do álcool e das drogas”.

Comparando Brasília a outras cidades brasileiras, mais da metade dos jovens (57,9%) e dos professores (54,1%) assinalam que ela é menos violenta , sendo que 32,9% dos jovens acham que o índice de violência é semelhante. Para 51,4% dos jovens a violência ocorre igualmente no Plano Piloto e nas satélites; mas 45,9% acreditam que ela se concentra nas satélites porque os moradores têm menos acesso à escola, ao emprego e à assistência médica, opinião endossada pelos professores. Os grupos focais consideram que a violência do Plano Piloto é omitida pela imprensa e pelo Governo. Alguns docentes associaram o aumento da violência ao “inchamento” da cidade, ao crescimento das desigualdades sociais e à impunidade - corroborando com a declaração dos pais de que os jovens acreditam que são impunes porque têm pais influentes.

Grande número dos jovens respondeu que já foi vítima de assaltos e furtos, mas somente 4% denunciaram o episódio às autoridades. Infere-se que assaltos, furtos e agressões físicas são consideradas pelos mesmos como “normais e cotidianos”. Quanto à agressão sexual quase metade das vítimas afirma ter denunciado. A violência do trânsito também é pouco delatada, grande número dos entrevistados admite dirigir em alta velocidade e quase 20% costumam assistir a pegas.

Os depoentes jovens não correlacionam a violência ao consumo de drogas. A maioria afirma nunca ter experimentado drogas. Dentre os que consomem, as mais usadas são a maconha, os inalantes e remédios. O álcool é consumido por 41%, mas para 78,1% dos entrevistados não é considerado como tóxico, inclusive no discurso de todos os partícipes do estudo, bebidas e drogas são referidas separadamente. Nos grupos focais, parte dos jovens admite consumir substâncias psicoativas, principalmente a maconha, que “faz parte da rotina é um divertimento”. 

Os jovens delatam que são ameaçados e apanham da polícia, quando estão sozinhos ou em grupos e são coagidos a negar a agressão. Queixam-se de serem tratados como bandidos nas abordagens policiais, geralmente públicas, gerando constrangimento diante da família e da vizinhança. Afirmam que às vezes se unem a gangues ou a galeras para segurança e proteção. A polícia não é vista como proteção. Os jovens dos grupos focais definem que galera é uma turma de amigos que costuma sair unida para se divertir e gangue tem território demarcado, comete delitos, tem rivalidade com outras gangues, utiliza drogas, bate nas pessoas e guerreia por territórios.

No Capítulo II focalizou-se a relação do jovem com a escola, 90,8% responderam que estão estudando; dentre os estudantes, 62,4% são da rede particular e 37,6% da pública. Os jovens consideram a escola alienada de suas vivências e uma obrigação; criticam o ensino porque não desenvolve temas extra-curriculares. Para eles,a escola particular é uma extensão da família, menos massificante que a pública e privilégio de poucos pela relação direta com o poder aquisitivo. Associam também o estudo à mobilidade social: “estudo é uma via de ascensão econômica e social”, “escola é um agente orientador, fator de estabilidade e segurança, garantia de um bom futuro profissional”. Teceram, ainda, várias críticas ao docente da rede pública, considerando-o ausente, autoritário e desrespeitoso com os alunos. Admiram o professor que se mostra disponível, informal, descontraído e afetivo com eles.
 
Os docentes enumeram que os motivos para o fracasso escolar são o desinteresse, a apatia, a desmotivação, a distância entre os conteúdos e a realidade do aluno e a falta de apoio familiar; reclamam que o ensino público não tem prestígio e é estigmatizado pela sociedade; reconhecem que a profissão é difícil e também perdeu o prestígio, mas ponderam que a escola é fundamental para estimular a visão crítica, orientar a vida prática, disciplinar e preparar os alunos para uma profissão. Os professores alertam sobre a influência dos grupos: “você pode ter um aluno que é um doce, ele está ali, é um cidadão, mas se ele juntar com meia dúzia, ele toca fogo no índio...”
Os pais têm altas expectativas e exigências em relação à escola. Esperam que ela eduque, forme valores e discipline os jovens, transmita “boa educação” e  acompanhe a vida emocional de seus filhos.

O tema Vida Familiar é abordado no Capítulo III. A categorização da ABIPEME foi utilizada para caracterizar as classes sociais: a maioria dos jovens pertencem às classes A e B. No tocante à escolaridade dos pais, a maioria tem curso superior completo (situação específica do DF), existindo mais pais do que mães com este nível. Funcionário público é a categoria ocupacional da maioria dos pais dos jovens pesquisados.

A maioria (66,1%) dos jovens mora com o pai e a mãe, enquanto que 22,9% moram apenas com a mãe; verbalizaram que se relacionam melhor com a mãe, depois com os irmãos e, por último, com o pai - a mãe é mais acessível e o pai representa a autoridade. Metade dos jovens declara conversar muito com os pais e número quase igual conversa às vezes, os temas mais discutidos são futuro profissional, relacionamento familiar e escola (sexo e drogas são menos discutidos), os pais citam os seguintes temas: esporte, escola, namoro e drogas. Surge a figura do pai amigo, criticada por alguns jovens: “acho que antes de ser amigo, tem que ser pai”. 

A relação familiar torna-se tensa depois que os pais sabem do envolvimento dos filhos com drogas, afirmam os jovens dependentes: “acaba a confiança que eles têm na gente”. Neste grupo emergiram sentimentos de culpa pelo desgaste emocional e envelhecimento precoce dos pais. Para os pais, relacionar-se com o dependente é “muito difícil, é um fardo”. Relataram também sentimento de impotência diante dos filhos drogaditos.

Há diferença no tratamento dos pais segundo o gênero dos filhos. As mulheres, por exemplo, informaram que os pais têm medo que elas engravidem. Atenta-se para o fato dos jovens e dos pais não mencionarem que temem a AIDS. A influência negativa da TV foi mencionada pelos pais: “A TV priva o convívio, muda hábitos, impossibilita as refeições em grupo e o diálogo”.
 
As dificuldades dos alunos, na concepção docente, advêm de fatores externos à escola, como a “desestrutura familiar”. A convivência entre pais e alunos é quase inexistente - “a maioria é órfã de pais vivos” - denunciam os professores. Acusam ainda os pais de não ensinarem respeito, não imporem limites à liberdade, não serem mais rigorosos, não dialogarem, não trabalharem valores e a afetividade dos filhos. Em contraposição, os pais culpam a escola de permissividade, não cobrar o mínimo, não impor limites , não formar valores: “a família tem o cuidado de estabelecer os comportamentos, os professores têm vergonha de exigir comportamentos”. Nota-se um jogo entre família e escola, cada parte culpa a outra pelas falhas e fracassos educativos dos jovens.

Os jovens relatam violência na família: discussões , agressões, humilhações; a maioria já teve alguma experiência e consideram as agressões físicas entre os pais como o ato mais violento.
A cidadania é amplamente discutida e tratada no Capitulo IV, a partir de fundamentação teórica específica. A noção de cidadania enfatizada se traduz em princípios éticos de liberdade, dignidade, respeito às diferenças, justiça, eqüidade e solidariedade, os cidadãos têm os mesmos direitos baseados em princípios de igualdade e justiça social.
A instituição em que o jovem mais confia é a família, depois a Igreja, embora não sejam assíduos aos serviços religiosos. Revelam descrédito nas instituições públicas. Segundo a pesquisa, o exercício pleno da cidadania, parece não ser vivenciado pelos jovens, pois implica praticar idéias, habilidades e compromissos políticos que criam a identidade social. Apenas 2,2% dos jovens se preocupam com o destino do Brasil, com um mundo melhor, uma sociedade igualitária e sem violência; em contrapartida 97,8%  se dizem preocupados com o seu futuro profissional e no “ter”: dinheiro, família, felicidade e sucesso.

A maior parte dos jovens (64,8%) diz que a democracia é a melhor forma de governo e 16% dizem que tanto faz democracia ou ditadura. Eles autocriticam-se porque pertencem a uma geração comodista, alienada, que não luta: “a galera da ditadura era muito mais consciente”, convergindo com estudos recentes que caracterizam a juventude atual como apática, individualista e hedonista. Consideram que vivem melhor que os pais: mais liberdade, dinheiro, carro, lazer, educação e menos rigor paterno. Ser rico para eles é ostentar carro novo, importado, tênis de marca, roupas da moda; relacionam ser pobre ao local de moradia: o entorno e a periferia são signos de pobreza. Responderam que atos violentos são aqueles praticados contra índios, prostitutas, estudantes, políticos, homossexuais. Entretanto, hierarquizaram que matar estudante, índio ou político é mais grave que matar o mendigo, a prostituta e o homossexual; humilhar travestis, prostitutas e homossexuais é menos grave que depredar orelhões, placas de sinalização e pichar.
 
 
 O caso Galdino é analisado detalhadamente no capítulo V e cotejado com a questão da cidadania: como a sociedade representa e trata as diferenças sociais, étnicas, culturais, os preconceitos na elaboração de identidade - o eu e os outros. Sobressai o fato da violência ser investida contra um índio porque os autores pensaram ser um mendigo: “Foi apenas uma brincadeira. Não sabíamos que era um índio. Pensamos que fosse um mendigo”, alegou um dos rapazes para justificar o crime (Correio Braziliense 21/04/97).

 Um elenco de perguntas foi formulado pelos pesquisadores no Capítulo V: Por que escolher justamente um “excluído social”? Se era uma brincadeira, por que não colocar fogo em “seus iguais”? Por que a pessoa escolhida para “brincar” de incendiar foi uma pessoa indefesa, que estava dormindo e era aparentemente um miserável? Adiante, os autores respondem as perguntas à luz de outros estudos, principalmente da área de Ciências Sociais. Analisam que incendiar um excluído social traz em si o preconceito de classe e que a exclusão social relaciona-se ao processo de não-reconhecimento do outro, de rejeição ou intolerância - expressão clara de exclusão de direitos- demonstrando que a nova exclusão aproxima-se do não ter direitos, em expulsar o “incômodo” da esfera social, usando até o extermínio.

 Número significativo (61,8%) dos jovens classificou a morte do índio como ato criminoso e 28,9% um acontecimento muito grave; uma parte escolheu as seguintes punições aos infratores: pena máxima(56,6%) e prestação de serviços comunitários(36,7%), divergindo dos professores que escolheram o inverso: prestação de serviços comunitários(57,0%) e pena máxima (29,9%).

Os pais expressaram indignação, perplexidade e relacionaram o caso à ausência de valores, retrato da crise social. Alguns ressaltaram que a vida familiar auxilia na compreensão da atitude dos jovens que incendiaram um “índio”; outros consideraram a atitude como ato impensado e  também declararam que, pelo fato da vítima ser um índio, a notícia foi mais valorizada e, se o caso não envolvesse jovens da classe média do Plano Piloto certamente não haveria tanto destaque.

Embora repudiando o ato, número significativo de educadores, pais e jovens analisaram a morte do índio Galdino como uma “brincadeira”, inclusive alguns professores denominaram “uma brincadeira impensada, inconseqüente, que assumiu características de diversão”. Em todos os grupos focais o aspecto da “brincadeira” foi exposto para condenar, justificar ou explicar o episódio. Associando as palavras aos seus significados, depara-se com um conteúdo velado : se “brincadeira” é a ação de brincar, sinônimo de divertir-se, entreter-se, alegrar, causar prazer, então queimar uma pessoa passaria a ser recreação, forma de alegrar-se e de ter prazer.
 
Os autores afirmam, na conclusão da pesquisa, que as famílias, inclusive de classes sociais altas, revelam-se despreparadas para compreender, responder e orientar os problemas juvenis. A escola tem assumido um papel notadamente instrumental: preocupa-se muito em preparar o aluno para o “êxito profissional” e pouco para o exercício da cidadania. Analisam criticamente que os programas para a juventude são direcionados ao adolescente em “situação de risco” e aos infratores. Duas medidas são recomendadas pelos pesquisadores para serem investidas urgentemente com a finalidade de reduzir a violência:
a) Estruturação de uma Rede Nacional de Luta Contra a Violência, ou seja, um sistema de informações dirigido aos pais, professores, órgãos governamentais da área, etc. sobre os programas atuantes no país : drogas, abuso sexual, violência contra as crianças e grupos minoritários.
b)Articulação com as escolas, que são espaços privilegiados pela capacidade de articular pais, professores e alunos para estratégias preventivas como: competições esportivas em escolas distintas(públicas/privadas, Plano Piloto/Satélites); debates sobre problemas juvenis (utilizar a TV e jornais dirigidos aos jovens); atividades conjuntas de pais, filhos e educadores; debates nas escolas sobre cidadania, direitos humanos, violência, discriminação social, drogas; e outros.

 Em apenso, estão relacionadas as principais propostas do seminário “Juventude, Violência e Cidadania” realizado em Brasília no dia 24.11.97, que, sem dúvida, contribuirão para a criação de identidade social na juventude brasileira e reforçar a importância do “outro” nas relações interpessoais. Dentre as proposições, destacam-se: realizar pesquisas sobre violência e juventude em outros Estados para visão global do jovem brasileiro; estimular a realização de pesquisas sobre gangues e jovens infratores; aprofundar estudos sobre a cultura e a cidadania, baseando-se no universo juvenil; considerar a diversidade cultural, de classe, étnica, gênero e etária para implantação de novos programas e políticas juvenis; estabelecer políticas específicas para crianças e adolescentes; desenvolver trabalhos com os jovens dando-lhes voz nos mais diversos espaços de socialização (escola, família, grupos de encontro,  Igreja, partidos políticos).

A pesquisa Juventude, Violência e Cidadania vem a propósito, pois confronta os discursos dos jovens, dos educadores e dos pais, analisando os valores e as percepções destes diante de uma realidade global em transformação e destacando o marco conceitual, principalmente sociológico, que permitiu examinar criticamente a temática e esclarecer que a etiologia dos altos índices de violência advém de problemas macrossociais que consequentemente deforma valores e comportamentos humanos, refletindo na negação direta dos direitos do próximo e dos ideais democráticos de justiça, igualdade, respeito às diferenças, solidariedade e justiça.
 
“Ela está em toda parte, ela não tem nem atores sociais permanentes reconhecíveis nem “causas” facilmente delimitáveis e inteligíveis” , é o conceito de violência formulado por Zaluar (1997) e realçado na pesquisa; oportunamente citado no encerramento desta resenha porque o mesmo dismistifica   a correlação enraizada no inconsciente coletivo de que a violência é fruto da periferia e permite a continuidade de estudos científicos sobre violência social e juventude.
Onã Silva A Poetisa do Cuidar
Enviado por Onã Silva A Poetisa do Cuidar em 28/06/2010
Alterado em 28/06/2010
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