ACESSO NEGADO
Autora: Onã Silva Quando meu nome estava na ciência Tinha louros e toda eloquência Mas quando você viu minha deficiência Revelou toda indiferença Não foi bom samaritano Expurgaram-me do plano Não fui revelação do ano Disseram-me inverdade Não havia lei na cidade Nenhuma praticidade Acessibilidade? Acesso velado. Acesso negado. Quando meu nome tinha influência Tinha muita gente ao meu redor Mas quando você viu minha deficiência Você sequer me deu bola Foi tomar a sua coca-cola Fingiu até tocar uma viola Pensou que eu queria esmola Engoliram minha liberdade Roubaram minha identidade Usaram até a maldade Acessibilidade? Acesso velado. Acesso negado. Quando meu nome tinha abrangência Servia sempre de propaganda Mas quando você viu minha deficiência Buscaram outro nome melhor Meu sobrenome foi pro Itororó Esconderam-me no cafundó E nem fizeram cara de dó Sofri com a imobilidade Não tinha velocidade Fiquei em desigualdade Acessibilidade? Acesso velado. Acesso negado. Quando meu nome mostrava eloquência Era convidado para os banquetes Mas quando você viu minha deficiência Não me deixaram mais falar Tiraram o tapete sem avisar Puseram as mãos pra lavar Viraram-se pro lado de lá Passei contrariedade Convivi com falsidade Esconderam a legitimidade Leis ficaram sem validade Acessibilidade? Acesso velado. Acesso negado. Quando meu nome brilhava com frequencia Dava ibope nas colunas sociais Mas quando você viu minha deficiência As câmeras foram escondidas Deixaram-me só nas avenidas Usaram aquelas cadeiras definidas Reduziram a luminosidade Cotizaram oportunidade Cercaram a rua com grade Acessibilidade? Acesso velado. Acesso negado. Quando meu nome tinha a preferência Pelo curriculum fenomenal Mas quando você viu minha deficiência Esconderam microfone Mudaram de telefone Inventaram codinome Fiquei até com fome Ganhei vida sem qualidade Desrespeitaram a idade Atropelaram minha dignidade Acessibilidade? Acesso velado. Acesso negado. Veja aqui exposta a toda minha deficiência Mas não preciso de indulgência Quero vida com decência Pois sou gente e cidadão Como diz a constituição? Pra que tanta legislação? É fato a tal inclusão? Diga-me a verdade Sobre acessibilidade O que sei e sinto do meu lado É acesso velado. É acesso negado. Onã Silva A Poetisa do Cuidar
Enviado por Onã Silva A Poetisa do Cuidar em 24/04/2014
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |